27.10.09

Idade da Fotografia no Brasil


1832 – O francês Hércules Florence, residente na cidade de Campinas (SP), realiza as primeiras imagens fotográficas no país. Cientista e desenhista, participou da expedição Langsdorff, que percorre os estados de São Paulo, Mato Grosso e Grão-Pará. Desde então, empenhou-se em buscar o registro de imagens. Embora não conhecesse o trabalho de Nicéphore Niépce (1765-1833), que fixou a primeira fotografia em 1826, Hercules Florence pesquisa a gravação de imagens pela ação da luz. O processo desenvolvido por ele baseia-se no mesmo princípio estabelecido pelo inglês William Henri Fox Talbot: a reprodutibilidade das chapas (negativo/positivo), fundamento da fotografia até hoje. Ele se refere ao processo pelo nome de photographie seis anos antes do britânico John Herschel, considerado o primeiro a fazer menção à palavra.

1840 – O abade francês Louis Compte, de passagem pelo Rio de Janeiro, realiza três daguerreótipos (imagens obtidas com um aparelho capaz de fixá-las em placas de cobre cobertas com sais de prata). É a primeira demonstração do funcionamento do processo no Brasil e na América Latina. No mesmo ano, o fotógrafo Augustus Morand produz as primeiras fotos da família real brasileira e do Palácio São Cristóvão.

O imperador Pedro II compra uma câmera de daguerreótipo e começa a produzir imagens, tornando-se o primeiro brasileiro nato a dedicar-se à fotografia.

1851 – Dom Pedro II atribui o título de "Photographo da Casa Imperial" aos retratistas Buvelot e Prat. É a primeira vez que um soberano concede uma honraria a um fotógrafo. Posteriormente, o imperador brasileiro outorga o título a mais 21 profissionais da época.

1853 – Começa a funcionar no Rio de Janeiro a primeira oficina de calótipoo país, dirigida por C. Guimet. Esse processo permite que se obtenha cópias das fotografias.

1860-1900 – Imigrantes europeus trazem as novas tecnologias fotográficas ao país, como o colódio úmido (negativo feito sobre placas de vidro sensibilizadas com uma solução química). Proliferam estúdios de retratistas nas principais cidades brasileiras. O alemão Alberto Henschel abre escritórios no Recife, em Salvador, no Rio e em São Paulo e transforma-se no primeiro grande empresário da fotografia brasileira. Nessa época também se destacam Walter Hunnewell, que faz a primeira documentação fotográfica da Amazônia, Marc Ferrez, que produz imagens panorâmicas de paisagens brasileiras, e Militão Azevedo, o primeiro a retratar sistematicamente a transformação urbana da cidade de São Paulo.

1861 – O francês Victor Frond lança o álbum Brazil Pittoresco, o primeiro livro de fotografia do Brasil e da América Latina.

1900 – São publicadas as primeiras fotos da imprensa brasileira na Revista da Semana. Nos anos seguintes, outros jornais e revistas intensificam o uso de fotografias, entre eles O Malho, Kosmos, A Vida Moderna, Fon-Fon, Careta e Paratodos.

1901 – O fotógrafo Castro Moura introduz no país o cartão-postal.

1904 – Valério Vieira realiza pesquisas de montagens fotográficas com vários negativos desde início do século XX. Seu auto-retrato Os 30 Valérios recebe medalha de prata na Feira Internacional de Saint Louis (EUA). Em 1922, Vieira ganha medalha de ouro na mesma feira pela maior impressão fotográfica do mundo, uma panorâmica da cidade de São Paulo de 16 m x 1,4 m.

1911 – Primeiro fotógrafo oficial da prefeitura do Rio de Janeiro, Augusto Malta registra cenas do Carnaval carioca, dando início ao fotojornalismo.

1928 – O engenheiro químico Conrado Wessel funda, em São Paulo, a primeira fábrica de papel fotográfico da América Latina. Posteriormente, ela é comprada pela Eastman Kodak, quando a empresa norte-americana se instala no Brasil. A atividade de Wessel contribui para a difusão da fotografia no país entre as décadas de 30 e 50.

1935 – Fundação da Revista São Paulo, publicação com projeto gráfico arrojado, que valoriza o fotojornalismo e a fotomontagem, na qual se destacam o trabalho de Benedito Junqueira Duarte e de Theodor Preissing.

1939 – Fotógrafos de origem alemã imigram para o Brasil trazendo influências do movimento Bauhaus, como a ênfase nas formas e no grafismo e o uso de recursos como ampliação, montagem, dupla exposição e solarização, entre outros. Destacam-se os trabalhos de Hildegard Rosenthal, Hans Gunter Flieg, Fredi Kleeman e Alice Brill.

Década de 40 – Auge do fotoclubismo, movimento que reunia profissionais de diferentes áreas interessados na prática da fotografia como uma forma de expressão artística. Os primeiros fotoclubes surgem no início do século XX, mas é a partir dos anos 30 que passam a ter papel de destaque na formação e no aperfeiçoamento técnico dos fotógrafos brasileiros. Os principais são o Photo Club Brasileiro, fundado no Rio de Janeiro em 1923, e o Foto Cine Clube Bandeirante, criado em São Paulo em 1939, cuja atuação é fundamental para o desenvolvimento da fotografia de autor no país. Entre os expoentes do fotoclubismo estão Thomas Farkas, José Oiticica Filho, Eduardo Salvatore, Chico Albuquerque, José Yalenti, Grigóri Varchávchik, Hermínia de Mello Nogueira Borges, Nogueira Borges, Geraldo de Barros e Gaspar Gasparian.

1946 – Geraldo de Barros e José Oiticica Filho impulsionam a fotografia de autor, que deixa de se preocupar com o retrato da realidade e busca novas formas de expressão artística. Eles rompem com a tradição pictorialista predominante até os anos 40 e disseminada pelos fotoclubes.

1947 – Lançamento da revista Iris, a mais antiga publicação brasileira especializada em fotografia ainda em circulação.

1948 – O fotógrafo Chico Albuquerque faz a primeira campanha publicitária fotográfica no país.

1948-1950 – O Museu de Arte de São Paulo (Masp) realiza as primeiras exposições de fotografia em museus brasileiros, com os trabalhos de Thomas Farkas (1948) e de Geraldo de Barros (1950). Nesse período, os dois criam no Masp um laboratório fotográfico e um programa de cursos de fotografia, que contribuem para a formação de diversos profissionais nos anos seguintes.

Década de 50 – A revista O Cruzeiro e o Jornal do Brasil dão grande impulso ao fotojornalismo brasileiro ao destinar um espaço destacado nas reportagens para as fotografias, até então usadas como acessórios do texto. Entre os principais nomes desse período estão Jean Manzon, Luiz Carlos Barreto, Indalécio Wanderley, Ed Keffel, Luciano Carneiro, José Medeiros, Peter Scheier, Flávio Damm e Marcel Gautherot.

1952 – Lançamento da revista Manchete, que procura estabelecer uma narrativa visual independente do texto em suas reportagens.

Década de 60 – Período de auge da fotorreportagem no país, com o surgimento das revistas Realidade (1966) e Veja (1968) e do Jornal da Tarde (1966). Profissionais como Maureen Bisilliat, David Drew Zingg, Claudia Andujar, Luigi Mamprin, George Love e Walter Firmo fazem imagens informativas e de grande qualidade estética. Destaca-se ainda o trabalho de Luís Humberto, que consegue realizar fotos irônicas sobre a situação do Brasil sob regime militar apesar do controle da censura.

1965 – A Fundação Bienal de São Paulo introduz a fotografia em suas exposições oficiais.

Década de 70 – Surgem inúmeras oficinas e escolas de fotografia no país, como a Enfoco e a Imagem e Ação, em São Paulo, que impulsionam a fotografia de autor. A falta de lugares especializados para exposições leva à criação de diversas galerias (como a Fotóptica e a Álbum) e ao aparecimento de grupos como o Photogaleria, com atuação no Rio de Janeiro e em São Paulo, que busca inserir a fotografia no mercado de arte do país.

1970-1975 – Claudia Andujar e George Love desenvolvem o workshop de fotografia no Museu de Arte de São Paulo (Masp), que influencia a produção de dezenas de fotógrafos paulistas nas décadas seguintes.

1976 – O historiador brasileiro Boris Kossoy divulga publicamente as experiências de Hércules Florence no III Simpósio Internacional de Fotografia da Photographic Historical Society of Rochester (EUA), comprovando seu pioneirismo .

1979 – Criação do Instituto Nacional de Fotografia da Funarte (Fundação Nacional de Arte), órgão do Ministério da Cultura. A iniciativa marca o começo de uma política oficial para a área, o que possibilita o mapeamento da produção fotográfica da época.

Década de 80 – A imprensa intensifica o uso de fotos com a introdução do sistema digital de transmissão de imagens, que permite o envio através da linha telefônica. A fotografia brasileira torna-se conhecida no exterior por meio da participação em exposições internacionais e da publicação do trabalho de fotógrafos brasileiros em revistas estrangeiras. Entre os principais nomes do período estão Sebastião Salgado, Cristiano Mascaro, Miguel Rio Branco, Luiz Carlos Felizardo, Hugo Denizart, Cláudio Edinger, Mario Cravo Neto, Arnaldo Pappalardo, Kenji Ota e Marcos Santilli.

1981 – Sebastião Salgado é o único profissional a documentar a tentativa de assassinato do presidente norte-americano Ronald Reagan, o que lhe dá grande destaque internacional. Radicado na França, Salgado é reconhecido mundialmente como um dos mestres da fotografia documental contemporânea. Nos anos 80 e 90 publica grandes fotorreportagens de denúncia social, em livros como Sahel: l’Homme en Détresse (1986), Trabalhadores (1993) e Terra (1997).

Década de 90 – A fotografia deixa de ser utilizada apenas como imagem bidimensional e objetiva e passa a fazer parte de instalações, representando elementos abstratos, como sensações, sentimentos e emoções. São seguidores dessa linha Rosângela Rennó, Eustáquio Neves, Rubens Mano e Cássio Vasconcellos. Na fotografia documental, destacam-se os trabalhos de Luiz Braga, Elza Lima, Tiago Santana, Gal Oppido, Ed Viggiani e Eduardo Simões, entre outros.

1996 – O Centro de Comunicações e Artes do Senac de São Paulo inicia acordo de cooperação internacional com o Rochester Institute of Technology, nos Estados Unidos, o que permite um intercâmbio maior entre fotógrafos dos dois países.

1997 – O Instituto Cultural Itaú inaugura o setor Fotografia no Brasil no Banco de Dados Culturais/Informatizado. O banco fornece, além de nomes de profissionais brasileiros ou estrangeiros que trabalham no país, textos sobre técnicas fotográficas, críticas de exposições e fotografias digitalizadas dos mais diversos temas.

1999 – O Senac de São Paulo dá início ao primeiro curso superior de fotografia do Brasil.